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Destruir a economia não é uma política social – e muito menos uma questão de saúde públicaGovernos não podem consertar a crise econômica que eles próprios causaram

A economia é o coração do organismo social. Se desligarmos o coração de um organismo para proteger os membros e o cérebro, o organismo morre.

Isso é bastante óbvio, mas, ao que tudo indica, nunca foi tão crucial e necessário repetir o óbvio. Em face a esta crise sem precedentes gerada pela pandemia de Covid-19, temos de ser realistas, responsáveis e cautelosos.

A Lei de Say mandou lembranças

Estamos vivenciando um profundo choque de oferta causado por um desligamento compulsório da economia. Políticos deram a ordem para que o comércio fosse fechado, para que o setor de serviços fosse interrompido, e para que pessoas fossem proibidas de empreender e produzir, e até mesmo de circular livremente. Várias fábricas tidas como produtoras de bens não-essenciais também foram compulsoriamente fechadas.

Com uma só canetada, milhões de empreendedores e trabalhadores foram humilhados pelo estado, o qual, além de proibi-los de auferirem seu ganha-pão no livre mercado, ainda afirmou arrogantemente que suas atividades não são essenciais para ninguém. Um golpe duplo.

Com a produção e a oferta paralisadas, não há renda para essas pessoas. Sem renda, não há como elas demandarem outros produtos e serviços. Este é o básico da Lei de Say: quem não oferta bens e serviços não aufere renda; sem renda, não há como demandar outros bens e serviços.

Sendo assim, em decorrência deste choque de oferta, uma resposta séria deve ser feita também pelo lado da oferta. Mas não. Todas as políticas apresentadas são do lado da demanda. É completamente insensato os governos adotarem políticas do lado da demanda para resolver um problema de oferta.

Um choque de oferta causado por um fechamento compulsório da economia não tem como ser resolvido por meio de expansão monetáriaaumento dos gastos públicos e redistribuição de renda. Políticas de demanda em um ambiente de confinamento e de oferta profundamente reduzida não irão aumentar a oferta. Isso é lógica pura. 

Com efeito, a crise de oferta nem sequer decorre de algum desarranjo econômico. Tampouco decorre de alguma destruição em massa. Ela decorre das medidas tomadas em decorrência de uma pandemia. Só que uma crise pandêmica é solucionada adotando-se protocolos de segurança e equipamentos sanitários no ambiente de trabalho (sair às ruas com máscaras e luvas, por exemplo), de modo que empresas e empregos continuem existindo. Não se combate pandemia simplesmente desligando toda a economia, medida essa que pode criar problemas sociais e de saúde muito maiores no longo prazo, independentemente de eventuais injeções maciças de liquidez e políticas fiscais expansionistas. 

Políticas do lado da demanda não fazem nenhum sentido em um cenário de fechamento forçado de todos os setores. Não existe uma demanda a ser “incentivada” quando o governo ordena o fechamento de todas as atividades produtivas. E não há oferta a ser oferecida quando a inevitável crise econômica gera um colapso no emprego, na produção, na renda e no consumo.

Não será em V, mas em L

Médicos, jornalistas, artistas, intelectuais e até mesmo economistas estão dizendo que o desligamento da economia é uma medida essencial para se ganhar tempo para controlar o vírus e, principalmente, para preparar os hospitais para atender os futuros infectados.

Mas esse tipo de análise é típica de quem simplesmente não entende os efeitos em cascata — bem como todas as ramificações — de um completo desligamento. Tais pessoas veem esse desligamento da economia como um pequeno e temporário dano colateral, pois acreditam que tudo pode voltar ao normal em um mês. Errado. O impacto será severo, generalizado e exponencial.

A decisão de fechar a economia pode causar estragos duradouros aos empregos e às empresas, danos estes que não podem ser desfeitos em poucos meses. Sim, é essencial conter a disseminação do vírus e medidas drásticas podem ser necessárias, mas é crucial relembrar que cada mês de confinamento significa milhões a mais de desempregados e milhares a mais de empresas falidas e fechadas para sempre. 

E de nada adianta o governo fornecer capital de giro a juros baixos para empresas que não estão tendo receitas. É uma questão de contabilidade básica. A realidade de um balancete não pode ser abolida por uma simples “vontade política”. Se os custos são fixos, mas a receita cai a zero por muito tempo, os ativos vão se tornando menores que o passivo, o patrimônio líquido se torna negativo e a falência está contabilmente decretada.

Mecanismos artificiais de suporte estatal às empresas (basicamente, empréstimos estatais a juros baixos) duram por apenas alguns dias, ao passo que a ausência de receitas e a subsequente expansão dos prejuízos destroem o fluxo de caixa e os balancetes. Empresas veem suas faturas serem atrasadas ou simplesmente caloteadas. Ao mesmo tempo, por causa da total incerteza, encomendas para o restante do ano vão sendo canceladas. 

Não há como dizer que isso será passageiro.

A vasta maioria das empresas não está vivenciando um problema de acesso ao crédito (ao redor do mundo, há ampla liquidez e oferta de crédito a taxas baixas para empresas solventes). Elas estão vivenciando, isso sim, a total paralisação de suas atividades, e as inevitáveis demissões por causa dessa interrupção completa das atividades. Várias empresas descobrirão que apenas postergar (diferir) o pagamento de impostos ou receber empréstimos subsidiados pelo estado não resolverão seus problemas contábeis.

O principal problema vivenciado pelas empresas não é o de fornecer garantias para conseguir empréstimos, mas sim a impossibilidade de sequer ter motivos para requerer um empréstimo. Não estamos em uma crise causada pela falta de acesso ao crédito, mas sim em uma crise causada pelo desaparecimento da atividade econômica. 

Isso, por si só, afasta a tese de que haverá um recuperação econômica em formato de V. O mais provável é uma “recuperação” em formato de L. Ou seja, depressão seguida de estagnação. Mesmos todos os eventuais pacotes de estímulo e auxílio dos governos não podem abolir esse verdadeiro pesadelo que é a abolição do capital de giro e a destruição do balancete das empresas.

A saúde pública

Essa crise sanitária tem de ser atacada por três ângulos: prevenção, testagem, e a garantia de que tratamentos e vacinas estarão amplamente disponíveis quando prontos. Se os governos continuarem em pânico, destruindo o tecido social das economias, eles irão apenas adicionar pobreza, miséria, falências e desespero às fatalidades da epidemia, criando assim uma depressão sanitária e social muito maior e mais longeva.

As melhores medidas a serem tomadas para lidar com essa crise sanitária, bem como o risco de colapso econômico, é seguir a estratégia da Coreia do Sul, de Cingapura e de Hong Kong. Realmente, não é necessário reinventar a roda. Basta copiar o que deu certo. 

A Coreia do Sul, com seus 51 milhões de habitantes, é um dos países mais bem posicionados no ranking de liberdade econômica da Heritage (25ª economia mais livre do mundo). Seu gasto público em porcentagem do PIB (30% do PIB) é menor que o das principais economias do mundo, e seu gasto per capita em saúde é muito menor que o dos EUA e da União Europeia. A Coreia do Sul também é um exemplo mundial no gerenciamento da pandemia, com 186 mortes e 10.284 casos (em 6 de abril de 2020).

O mesmo pode ser dito de Cingapura e Hong Kong, também líderes em liberdade econômica e com gastos em relação ao PIB bem menores (17% e 18%, respectivamente).

No lado oposto, temos Espanha e Itália, com maciços gastos governamentais (acima de 41% na Espanha e acima de 48% na Itália) e amplos sistemas de saúde pública. Ambos, infelizmente, apresentam a maior taxa de letalidade. Há vários fatores envolvidos, é claro, mas um é evidente: maiores gastos estatais com saúde não são a solução mágica para uma crise gerada por má prevenção e má gestão.

Mas, afinal, qual tem sido o sucesso dos países mais bem posicionados no combate? Pouca burocracia na administração e um rápido, efetivo e eficiente sistema de prevenção, análise e contenção. Em suma, testagem e isolamento dos contaminados, e liberação para o trabalho dos não-contaminados e dos já imunizados.

Qualquer cidadão espanhol ou italiano pode perceber que o acúmulo de ineficiências que vivenciaram no gerenciamento da pandemia teria sido o mesmo caso os gastos de seus governos fossem ainda maiores, pois os recursos teriam sido alocados em outras coisas, e não especificamente para um surto pandêmico que todos os governos falharam em reconhecer. Trata-se de um problema de gestão, e não de fundeio — e muito menos de fundeio gerenciado pelo governo.

No final, o serviço público (em especial os médicos) e o setor privado estão fazendo de tudo, e mais um pouco, nesta pandemia. A crise mostrou que a única solução para futuros desafios virá exatamente de uma maior colaboração, com um sólido e poderoso setor privado. Não há setor público sem o setor privado. Não há saúde pública sem a tecnologia, a inovação, a pesquisa, os produtos e os remédios produzidos pelo setor privado. Nenhum governo do mundo poderá lidar com os desafios da saúde no futuro impondo o gerenciamento político como a única opção.

É indiscutível que iremos precisar de concorrência, liberdade de escolha e liderança tecnológica para atender a muito mais pessoas no futuro, ao mesmo tempo em que maximizamos o uso dos recursos disponíveis. Por tudo isso, acreditar que é possível destruir o setor privado, como está sendo feito agora, e ainda assim ter maior e melhor acesso a bens e serviços no futuro é postura de quem tem sérios problemas com a história e com as estatísticas. No mundo, nenhum sistema de saúde de ponta é exclusivamente estatal. E nenhum trabalha exclusivamente com recursos estatais.

Com efeito, esta crise tem demonstrado a realidade de que o capitalismo é o sistema mais eficiente e social possível. Empresas e trabalhadores autônomos têm respondido de maneira exemplar. O número de empresas, empreendedores e organizações que atuaram rápida e eficientemente para apoiar os países em dificuldades — convertendo suas linhas de montagem para a produção de máscaras, equipamentos hospitalares e álcool em gel — é enorme. 

Por outro lado, e infelizmente, exemplos de solidariedade e de contribuição da parte dos agitadores anti-capitalistas são quase nulos. Com efeito, é curioso que exatamente aqueles anti-capitalistas radicais que vivem entonando slogans anti-corporações agora estão exigindo a adoção de medidas que só podem ser levadas a cabo em ambientes capitalistas. Querem que multinacionais reduzam seu patrimônio líquido doando e ofertando equipamentos (algo que seria impossível não fossem os lucros anteriores); querem que as grandes empresas emitam bilhões em títulos que terão de ser comprados pelos fundos de investimento que eles odeiam; querem que os governos incorram em endividamentos maciços financiados por investidores que eles abominam; querem maciços investimentos que terão de ser feitos por empresas que condenam; e querem empréstimos volumosos feitos por bancos que eles querem destruir. Nunca os anti-capitalistas foram tão capitalistas. 

Sim, graças ao capitalismo, sairemos dessa crise — que foi pessimamente prevista e gerenciada pelos governos — em tempo recorde, desde que não haja mais obstáculos artificiais à recuperação econômica.

Para concluir

Esta crise irá destruir milhões de empregos, mas a recuperação poderia ser rápida se os governos não incorressem no erro de atacar a pandemia criando uma depressão econômica. Por ora, os governos, ao fecharem suas economias, estão mandando a esmagadora maioria das pequenas e médias empresas para o colapso, gerando anos de estagnação econômica, pobreza e desemprego maciço. Destruir a economia, como está sendo feito agora, não é uma política social.

Governos, em existindo, deveriam fornecer aos cidadãos e às empresas as ferramentas para garantir a segurança, e não matar o tecido social de um país.

Mas, em vez de proteger o tecido produtivo para possibilitar a criação de mais empregos quando a pandemia for controlada, alguns governos irão, ao contrário, levar centenas de milhares de pequenas empresas à falência. E essas empresas não ressurgirão quando a crise passar.

A pandemia sanitária será superada graças à genialidade humana, à ciência, à tecnologia e às empresas. Já a pandemia intervencionista irá custar muito mais, em termos de vidas, de emprego, de crescimento e de oportunidades.

https://www.mises.org.br/article/3235/destruir-a-economia-nao-e-uma-politica-social%E2%80%94e-muito-menos-uma-questao-de-saude-publica

By SANTANA

Jornalista/ Bacharel em Ciência Política / Sociólogo/ Gestor em Segurança Pública e Policiamento / Pós graduado em Sociologia e Política de Segurança Pública

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